Hendrixismos por aí: Ivan Resende

ivan resende banda free hendrix
Posted by Ivan Resende Category: entrevistas

Por: Xavis Xavier (xavisownexperience – 2013)

Decidi criar uma nova categoria para o Blog. Baseia-se em entrevistas com guitarristas que tem bandas cover de Hendrix. Para iniciar a categoria trago para vocês Ivan Resende da banda Free Hendrix de Minas Gerais num bom papo descontraído. Bom, pegue uma xícara de café, dá um play naquela discografia do Hendrix no modo aleatório e boa leitura.

• Bom, para começar nossa conversa, nos conte qual foi o seu primeiro contato com Hendrix. O que te chamou atenção e tal, como foi a sensação?

Bom, eu não me lembro ao certo o primeiro dia em que o ouvi. Fui começar a entender o universo da música relativamente tarde e, aos 17 anos, comecei a gostar de rock. Enfim, lembro que um grande amigo meu, Humberto Behrens, me mostrou clássicos da fase “Experience” como Hey Joe, Purple Haze e instantaneamente eu gostei daquilo tudo! A música do Jimi tem uma expressão e energia diferente, que logo o cativa. Pelo menos foi assim pra mim.

• Já tocava guitarra?

 Ainda não, inclusive foi a música do Jimi que me deu impulso para escolher a guitarra. Eu ouvia e ficava inquieto, querendo transferir toda aquela sensação. A guitarra foi minha primeira decisão de instrumento, mas só fui ganhar uma aos 20 anos. Comecei a tocar aos 19 anos de idade com um violão.

• Conte um pouco sobre seu desenvolvimento, seu relacionamento com Hendrix, o que lhe acrescentou musicalmente, tanto no sentido do seu tocar quanto no seu gosto musical, conhecimento de outras bandas e tal. Você treinava muitas horas?

 Pouco depois que ganhei a guitarra comecei a estudar formalmente em uma Escola de Música de Belo Horizonte, chamada Pro-Music. No violão eu havia feito  aulas particulares em casa com o “Paulinho guitarrista”, mas por pouco tempo. Enfim, no início a música do Jimi parecia muito distante para mim e realmente estava. Não conseguia tocar suas músicas, os acordes sim, mas da maneira dele não. Demorou cerca de três anos para que pudesse entendê-lo melhor. Inclusive na questão de timbres, pois no início usava uma guitarra Jackson JDR.

• Uau! Com floyd e tudo? Dependendo dos caps da para usar ponte e meio que fica ainda um som “estalado” meio Strato. Quem consegue tirar um ótimo som desse jeito é o Paul Gilbert.

Pois é, rs. Eu pensei assim quando a comprei: “se o Jimi usava alavanca e fazia um som tão inovador, imagina se ele tivesse uma guitarra com Floyd Rose”. Dai a escolha. Mas eu não entendia de timbres, captadores, etc. Pensei apenas no efeito da alavanca.

•Mas foi uma ideia idêntica à do Floyd Rose. Ele criou o sistema flutuante pois tocava Hendrix e Deep Purple ( era In Rock e tal) e tava cansado de ficar afinando após músicas. Mas e sobre a influência de Jimi, ele te fez gostar de outras coisas? Te apresentou algum tipo de sonoridade/banda que não conhecia e também gostou? Por exemplo, nem todos sabem que All Along the Watchtower era do Dylan, ou não sabiam da criatividade dos Beatles a partir do Rubber Soul…. O que gera uma procura pelo que ele gostava de ouvir e quem sabe gostar.

Ele despertou o contrário em mim, me fez voltar no tempo ao invés de ir além. Pelo menos durante a fase inicial dos estudos. Eu estava curioso querendo entender tudo; acordes, teoria e todo o conceito da música. Quando vi que ele tinha muita influência do blues, eu quis voltar na origem. Comecei a ouvir os clássicos do blues para tentar compreender melhor como ele chegou aonde estava.

•Aí você chegou à quais guitarristas?

Buddy Guy foi um, por exemplo. Mas não preocupei em apenas aprender a guitarra, preocupei com o conceito do blues e a sua própria linguagem.
 
ivan resende banda free hendrix

•Já viu aquele vídeo em que o Hendrix está assistindo à ele? É fenomenal.

Sim, parece incrível de acreditar que realmente aconteceu. É muito marcante! Tanto que logo nessa fase eu tive a idéia de fazer uma banda de blues. E deu certo, chamava-se Free Hand Blues Band. Tinha duas guitarras e uma gaita. Era um sexteto formado por Raoni Jardim (baixo), Luis Ritter (bateria), Daniel Tininho (gaita), Rafa Debere (vocal), Vitor “Jeff Beck” (guitarra) e eu. *Passaram também pela banda Sidney Fanzine e Marcus Marangon (baixo).

•E você conseguiu entender o blues do Hendrix? Eu digo, conseguiu entender os lances harmônicos que ele usava para soar tão diferente? Ele mesmo falava que a música dele era o novo blues.

O nosso repertório tinha menos blues moderno, algo mais focado na gaita, como James Cotton, Sonny Boy, etc. Coisas que não se ouvia normalmente por aqui. O Daniel “Tininho”, gaitista da banda, foi a pessoa que mais abriu minha mente em relação ao blues, a coleção dele é incrível, tem nomes de bluesman que você nunca ouviu falar. E são todos muito bons!

•e o Blues do Hendrix?

O que fiz foi entender a essência do blues dele. A partir disso tento misturar tudo quando toco, coisas que aprendi do blues “clássico” e “moderno” como SRV e outros mais.

•Saquei. Recentemente li o livro Luz & Sombra do Jimmy Page e ele mesmo disse que Hendrix elevou o Blues, levando ao espaço.

Essa eu não sabia, mas posso concordar também. Ele elevou a música popular em geral eu diria, não só o blues. A maneira como ele conduz “Little Wing”, por exemplo, é um “chord melody”, algo comum no jazz, mas não no “pop”. Isso foi muito inovador.
 
ivan resende banda free hendrix show

•Bom, durante os 4 anos de carreira do Hendrix, ele teve formações diferentes, seja a Experience, Band of Gypsys, Gypsys, sun and rainbows. Qual seu período preferido de Hendrix? Por que? Comente sobre cada um, o que você achou de cada um e tal.

A fase Experience é fantástica, você tem a exploração de overdubs, efeitos de estúdio, de pedais, tudo muito inovador e genial. Mas o que me fez e faz admirar o Hendrix é a fase Band of Gypsys. Ali ele conseguiu mostrar tudo o que realmente era, explorando novos ritmos e solos. “Who Knows” é incrível. Mas eu também gosto do que continuaria depois, com Mitch Michell e Billy Cox. Mas concordo que a fase “Experience” não seria nem de longe a mesma sem a criatividade e ousadia de Mitch Michell.

•Pois é, eu gosto também, mas você ja ouviu o Box of Gypsys? Porque o show Band of Gypsys que nós conhecemos são 6 músicas tiradas de 6 shows que rolaram nos dias 31 de dezembro de 1969 e primeiro de janeiro de 1970. Cada dia ele fez 3 shows, um atrás do outro. Um dia desses botei para ouvir e vi que o CD Band of Gypsys só tem as melhores, porquê tem umas versões que são horríveis, a banda ta meio perdida, para mim foi o que me fez desgostar do Buddy Miles, acho que mostraram as falhas técnicas dele. O que também deve se dar por improvisos da banda e o cansaço.

Pode ser, mas até onde sei (pelo que li a respeito), a questão de contar apenas com seis faixas foi porque o disco não poderia contar com as músicas do “Experience”, pois o “Band of Gypsys” seria lançado por outra gravadora (Capitol Records).

•Uhm pode ser! Essa história aí foi porque ele tinha assinado uma vez antes de ser famoso, um contrato e depois foi cobrado. Li uma entrevista do Hendrix em que os grupos que tocavam com ele não tinham repertório. Eles decidiam qual música iam tocar na hora.

Sim, ele tinha essa liberdade de construir o show e não o programar. Isso é bom e ruim as vezes, pois pode acabar como esse show do Band of Gypsys citado por você.

•E para onde você acha que Hendrix teria ido se não houvesse morrido? Qual caminho musical você acha que ele teria seguido na década de 70?

Bom, essa pergunta está até no seu blog, rs. Ontem eu estava lendo a matéria “Jazz, Jimmy Jazzy” criada por você. Acho que certamente ele gravaria com Miles Davis. Poderia ser o Bitches Brew ou outro disco, é difícil de imaginar. É algo comparável com a morte de Ayrton Senna, até onde ele iria? Acho que ambos, de certa maneira, tiveram o mesmo tipo de ambição, devoção e intensidade.

•Para você, qual o melhor show indicado para quem quer conhecer um pouco de Hendrix? Comente sobre ele.

Bom, eu precisaria analisar novamente todos eles. Mas eu gostei muito do “Jimi Hendrix Live Plays Berkeley”, Band of Gypsys e, claro, o Woodstock. Ultimamente tem lançado vários novos, tenho ouvido falar, mas ainda não tive a oportunidade de assistir.

•O que lhe chamou a atenção Live at Berkeley? Eu não curti muito pois eles editaram algumas músicas e tal.

Eu assisti em VHS, não sei se já contava com essa edição. Mas achei Jimi muito dentro de sua própria música, sem se dispersar. Algo que pra mim, aconteceu no festival de “Long Island”. Se a ordem do show foi aquela mesma, acho que no final de Red House ele começou a perder um pouco de concentração no show. Era fantástico em alguns momentos mas em outros nem tanto. Mas, essa é apenas minha opinião.

•Bom, fale sobre suas guitarras, seu set-up para show e como chegou a essa configuração de set-up.

A minha guitarra é uma Fender Stratocaster (modelo Squier). Eu alterei bastante coisa: trastes jumbo, captadores Texas Special e o nut de bronze. Os outros detalhes foram mais estéticos. Quanto aos pedais, não são tantos. No momento utilizo um Wah Wah (Vox), Tube Screamer TS9 (Ibanez), Fuzz Face (modelo Hendrix) e uma cópia do Phase 90 (MXR), feito pelo Maurício Roxy (M Roxy). O amplificador que utilizo é um Fender Frontman 65r.
 
setup pedais ivan resende free hendrix

•Afinação Padrão mesmo? quais cordas você usa?

Eu afino padrão, 440hz, apesar do Jimi variar e usar quase sempre em “Eb”. As cordas que utilizo são D’Addario .010

•Apenas uma guitarra? Ou tentou usar outras que nem Hendrix e ficou futucando os Knobs da SG que nem naquele clássico show preto e branco em que ele ta putasso tocando Red House ? Vi um vídeo do Rory Gallagher comentando que tentou tocar em guitarras com mais de 3 knobs, ele não gostava pois chegou a desligar elas algumas vezes sem querer

Boa observação, rs. Eu já testei algumas -fora da Free Hendrix-, inclusive um modelo Epiphone SG (emprestada do meu primo). O som é muito bom, inclusive os médios! Mas eu gostei mais dela no jazz. Enfim, o que gosto da stratocaster é a versatilidade. Eu consigo fazer um show de jazz e rock. Já outros modelos não soariam tão bem nos dois gêneros. Claro que se você pensar em jazz tradicional a melhor opção é a semi acústica. Mas falo da amplitude da guitarra stratocaster.

•E como é a escolha do repertório? Quais as músicas que você acha que deveriam entrar, além das clássicas? Sabe, aquela música que você sempre toca em casa e queria ver ao vivo, por alguma banda cover ou pela sua própria banda.

Na Free Hendrix a gente tem a preocupação de não tocar apenas as versões de estúdio. Pois ao vivo o Jimi sempre improvisava e trazia novidades. Procuramos, além dos clássicos, colocar versões que ele criou, como Sgt. Pepper’s, Sunshine of your Love, Like a Rolling Stone, Hound Dog e por aí vai. Isso acaba sendo um diferencial também.
 
show free hendrix bar Stonehenge

•Qual artista ( e disco) você indica? Um artista que continuou mantendo o legado de Hendrix

Pergunta difícil, rs. Depende, porque se você falar de “pegada” e “expressão” você tem SRV, por exemplo. Mas eu gosto muito do que Eric Johnson faz, ainda mais por ele utilizar uma stratocaster e fazer um som tão fantástico e eclético em timbres. Isso é muito pessoal, acho que todos que inovam ou tentam “assinar o seu som”, estão, de certa forma, seguindo o legado de Jimi Hendrix.

•O que você diria para essa pessoa que quer conhecer ou conseguir tocar Jimi Hendrix?

O que eu diria para quem quer conhecer ou tocar o som de Jimi Hendrix, é não pensar em um raciocínio simples, uma linha reta apenas. Você tem de ser “livre”, explorar sua criatividade e não ter medo de usar e testá-la. A música dele era assim, pelo menos da forma como eu a vejo.

•Bom, estamos chegando ao final da entrevista. Alguma consideração final?

Gostaria de agradecer, em primeiro lugar, ao seu blog (Xavis Own Experience) pela oportunidade de falar sobre Jimi Hendrix e o trabalho da Free Hendrix. Não poderia deixar de  agradecer também a todos os meus professores: Fernando Prado, Henrique Matheus, Reginaldo Silva, Rick Capistrano, Giovanni Mendes, Eduardo Campolina e ao Fabio Adour.”
 
poster banda free hendrix
 
Sobre a banda:

A Free Hendrix é formada por Anderson Araújo (baixo), Felipe Amorim (bateria), Ivan Resende (guitarra) e Rafa Debere (vocal). O quarteto interpreta a obra de Jimi Hendrix, abordando todas as fases da carreira do guitarrista, incluindo versões de outros artistas que estavam presentes em seu repertório, destacando-se: Beatles, Elvis Presley e Bob Dylan.

A performance da Free Hendrix é marcada pelos improvisos e liberdade musical, sem perder as principais características que consagraram a voz e a guitarra de Jimi Hendrix e o levaram ao status de lenda do rock.

Conheça a banda, contrate para shows: www.freehendrix.com.br

 

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